Habitualmente, o almocreve José Coimbra percorria de burro os caminhos do Algarve.
Um dia, ao passar junto das ruínas de Milreu, perto de Estoi, encontrou uma bela moura encantada. Vestida com um manto de princesa, a moura sorriu-lhe e ele, fascinado, seguiu-a.
A moura chegou a um sítio, bateu com o pé no chão três vezes e um alçapão abriu-se. Desceram ambos por uma escadaria de mármore até uma sala enorme revestida a ouro. A moura deixou-o só por uns instantes. Voltou acompanhada por um leão e uma serpente, seus irmãos encantados.
A moura prometeu a José o palácio e todo o seu ouro se ele quebrasse o encanto. Para isso, teria de ser três vezes engolido e vomitado pelo leão e três vezes abraçado pela serpente. O corpo do almocreve ficaria em chaga e, finalmente, a moura o beijaria na fronte para lhe retirar os santos óleos do baptismo.
O almocreve pediu-lhe para pensar e a moura deixou-o partir com duas barras de ouro.
José Coimbra voltou para casa e tentou esquecer o episódio.
Passado pouco tempo, começou a empobrecer e decidiu vender as duas barras de ouro. Quando olhou para as barras, ficou cego. Como última esperança, resolveu consultar um especialista de olhos em Faro.
Ao passar por Estoi, apareceu-lhe a moura. Esta acusou-o de ter faltado à promessa de lhe dar uma resposta. Só lhe tinha poupado a vida porque ele nunca tinha revelado o segredo daquele encontro.
O almocreve chorou arrependido. Comovida, a moura decidiu perdoar-lhe e devolver-lhe a visão.
Conta-se que o almocreve nunca mais voltou a passar por Estoi, onde ainda hoje uma moura e os seus irmãos esperam por quem os queira desencantar.
Ana Filipa